Havia uma vez um menino chamado Jujuco, que tinha o sorriso mais fácil do mundo. Ele sorria quando via formigas andando em fila, quando o vento fazia cócegas na barriga, ou quando alguém dizia uma palavra engraçada como “jabuticaba”.
Mas com o tempo, as coisas mudaram.
Na escola, alguns colegas começaram a rir dele, não com ele. Diziam que sorrir demais era “coisa de bobo”.
No parque, um senhor reclamou que Jujuco era barulhento só por dar gargalhada.
E em casa, os adultos viviam apressados, sérios, preocupados — e ninguém mais sorria de volta.
Aos poucos, Jujuco foi guardando o sorriso num cantinho do peito. Um dia, acordou e percebeu: seu sorriso tinha desaparecido.
Ele olhou no espelho e viu um rosto estranho: sem brilho, sem leveza. Nem uma careta engraçada fazia cócegas na bochecha.
Triste e sem saber o que fazer, Jujuco foi caminhar sozinho e chegou a um beco que nunca tinha visto antes. Havia uma placa torta, escrita com giz: “Entrada para a Cidade dos Sem-Gentileza”.
Curioso, e talvez um pouco teimoso, Jujuco entrou.
Era um lugar meio frio, meio abafado, onde todo mundo andava de cara fechada. Ninguém dizia “bom dia”, ninguém abria a porta para o outro, ninguém agradecia, e sorrisos? Nem pensar.
As ruas tinham nomes como “Avenida do Não Tenho Tempo”, “Travessa do E Eu Com Isso” e “Rua do Faça Você Mesmo”.
Jujuco tentou puxar papo com uma moça:
— Oi! Gostei da sua bolsa! — disse com esperança.
— Não pedi opinião! — respondeu ela, sem nem olhar pra ele.
Mais adiante, ele ajudou um menino a juntar umas moedas caídas no chão, mas o menino só disse:
— Era obrigação sua ajudar.
Na padaria, ele segurou a porta pra um senhor, que passou direto, resmungando.
Naquela cidade, a gentileza era vista como fraqueza, e sorrisos como perda de tempo.
Depois de algumas horas, Jujuco sentiu o corpo cansado. A ausência de sorriso pesava mais que uma mochila cheia de pedras. Ele se sentou num banquinho e murmurou:
— Onde será que eu perdi o meu sorriso?
Foi então que ouviu uma voz suave:
— Talvez ele só esteja esperando ser chamado de volta.
Era uma senhora de olhos brilhantes e cabelo todo frisado como nuvem. Usava um vestido cheio de desenhos coloridos e um colar feito de botões.
— Quem é a senhora?
— Me chamo Dona Miúda, porque carrego pequenas gentilezas no bolso.
Ela tirou de dentro do vestido um botão, uma flor de papel e uma bolinha de sabão.
— Sabe, Jujuco… nesta cidade, muita gente perdeu o sorriso, mas ninguém esqueceu como é receber um. Eles só… guardaram. Como você.
— Mas ninguém aqui é legal…
— Então, talvez estejam esperando alguém começar.
Jujuco pensou um pouco. Pegou a flor de papel e ofereceu para um menino que estava chutando pedras.
O menino recusou no início. Mas, antes de ir embora, olhou pra flor… e a guardou no bolso.
Jujuco então abriu a porta da padaria para um grupo de pessoas e disse “com licença” com um leve sorriso. Uma senhora olhou surpresa e, pela primeira vez no dia, sorriu de volta.
E foi como se uma pequena luz acendesse naquele lugar.
Nas horas seguintes, Jujuco continuou espalhando coisas simples: um “bom dia”, um “por favor”, um “você está bem?”. E embora nem todos respondessem, alguns começavam a parar, olhar, sorrir… como se estivessem se lembrando de algo que haviam esquecido há muito tempo.
Dona Miúda reapareceu, agora com um chapéu de bolinhas e um guarda-chuva que soltava confete quando aberto.
— Parece que seu sorriso está voltando, Jujuco.
Ele tocou o rosto e sentiu: a boca estava leve de novo. As bochechas, com aquele calor gostoso. E quando se viu no reflexo da vitrine da padaria… lá estava ele: o velho e bom sorriso, bem ali, no rosto dele.
— Mas… por que eu? — perguntou.
— Porque sorrir é como acender uma lamparina no escuro. Quem vê, pode querer acender a sua também. E gentileza, ah… é o pavio que faz tudo começar.
Jujuco fechou os olhos, e quando abriu, estava de novo em sua vila, no mesmo banco onde tudo começou.
No dia seguinte, na escola, ao invés de esconder o sorriso, ele deu um bem largo.
E, pela primeira vez em muito tempo, um colega sorriu de volta. Depois outro. E mais um.
E assim, de flor em flor, de botão em botão, Jujuco entendeu: sorrir não era bobagem. Era um superpoder.
E ser gentil… era o jeito mais bonito de mudar o mundo.
Fim.