O Dia Que o Mundo Ficou Só Meu

No alto de uma colina, numa casa cor-de-mel com telhado de folhas secas, morava um menino chamado Téo. Ele era esperto, engraçado e… muito, mas muito apegado às suas coisas.

Téo não gostava de compartilhar. Nem brinquedos, nem livros, nem balas, nem a última fatia de bolo de banana. Seu lema era:
— “Se é meu, é só meu. Se eu ganhei, é porque mereci.”

Quando seus amigos vinham brincar, ele dizia:
— “Você pode olhar meu brinquedo, mas não encostar.”
— “Essa bola é minha, só eu posso chutar.”
— “Esse jogo é só pra mim, você pode assistir.”

Com o tempo, os amigos foram parando de vir.

No parquinho, ninguém mais o chamava pro pique-esconde. Na escola, suas lancheiras ficavam cheias e intocadas, porque ninguém trocava figurinhas, nem mordia um pedaço do sanduíche do outro — e ele, claro, não oferecia nada.

Téo achava que estava tudo bem.

— “Pelo menos minhas coisas estão todas inteiras, limpas e no lugar.”

Mas, uma tarde, ao abrir seu armário de brinquedos, ele percebeu algo estranho. Seus brinquedos estavam apagados. Os bonecos não ficavam mais em pé. O carrinho não andava. O jogo eletrônico travava na mesma tela. O peão girava só por dois segundos. Até o ursinho favorito parecia… triste.

Téo ficou confuso.

— “Mas eles estão comigo! Comigo eles deviam estar felizes!”

Foi quando escutou uma vozinha rouca saindo de dentro do armário:

“Téo… você não percebe? Brinquedo que não é compartilhado… adormece.”

De dentro do armário, saiu um bonequinho empoeirado que ele nem lembrava que tinha. Chamava-se Pimpim. Ele usava um gorro xadrez e andava com um passo de mola.

— Brinquedos precisam de risadas, de rodízios de mãos, de novas ideias. Quando ficam guardados só pra um dono, eles murcham.

— Mas… eu cuido tão bem deles!

— Sim, cuida como se fossem prêmios de museu. Mas brinquedo bom é aquele que já caiu no chão, foi remendado, tem história em várias vozes.

Téo ficou quieto. Pensou no que o Pimpim disse.

— E as coisas que não são brinquedos?

— Ah, essas também! Alegria que não é dividida vira silêncio. Bolo que não é partido… embolora. Palavra boa que não é dita, perde a força.

Naquela noite, Téo sonhou que estava num mundo cheio de coisas maravilhosas: uma cama de marshmallow, um rio de suco, brinquedos flutuantes. Mas… ele estava sozinho. Não havia com quem rir, com quem correr, nem quem ouvisse suas piadas. O mundo era todo dele. Mas, aos poucos, foi ficando cinza, sem graça, sem cor.

Téo acordou com o coração apertado.

Na manhã seguinte, olhou seu armário. Pegou seu jogo eletrônico, colocou debaixo do braço e correu até a casa da Lili, sua vizinha. Tocou a campainha.

— Oi… você quer jogar comigo?

Lili ficou surpresa. Seus olhos brilharam.

— Quero sim!

Eles jogaram por horas. Deram risada, inventaram regras novas, criaram histórias com os personagens do jogo. O carrinho voltou a correr. O peão voltou a girar. Até o ursinho parecia sorrir.

Na escola, Téo levou balas e distribuiu. Não porque era obrigado — mas porque era bom ver os outros sorrindo também.

Na hora do recreio, quando viu um colega sozinho, entregou seu livro de figurinhas:

— Pode colar a que falta no seu álbum. Eu tenho repetida.

No fim do dia, cansado e feliz, Téo percebeu que algo mudou.
Ele ainda tinha suas coisas. Mas agora, também tinha de volta o que mais importa: amizades, risadas, histórias… e cor no mundo.

E desde aquele dia, ele descobriu uma coisa:

Compartilhar não é perder.
É multiplicar o que a gente tem.

Fim.

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