Num vilarejo escondido entre colinas fofinhas e árvores que dançavam com o vento, vivia uma menina chamada Zizi, de sete anos. Zizi era muito esperta, curiosa e… ocupada. Sim, ocupada.
Desde que começou a crescer, os adultos ao seu redor viviam dizendo:
— “Agora você precisa se concentrar.”
— “Brincar é coisa de criança pequena.”
— “Isso não ajuda em nada, Zizi.”
E aos poucos, Zizi foi guardando seus brinquedos num baú. Primeiro as bonecas astronautas, depois os blocos que viravam castelos, por último, seus lápis de cor que ela usava pra inventar universos.
Agora, ela passava os dias entre tarefas, horários, telas e compromissos. Quando via uma criança correndo, se balançando, pulando amarelinha ou fingindo ser dragão, Zizi apenas suspirava, com uma pontinha de saudade que nem ela entendia.
Até que, numa tarde cinza, algo estranho aconteceu.
Enquanto procurava um livro na biblioteca da escola, Zizi encontrou uma porta pequena atrás de uma estante. Nunca tinha notado antes. A porta tinha um letreiro esquisito: “Para quem esqueceu como é brincar”.
Ela hesitou, mas sua curiosidade foi mais forte. Abriu a portinha e, sem entender como, foi sugada por um redemoinho de papel colorido, fitas e confetes. Quando aterrissou, estava num lugar diferente.
Ali, as nuvens eram trampolins. As árvores tinham escorregadores. Os rios cantavam. E bolas quicavam sozinhas pela grama.
Uma criatura feita de tinta e lã apareceu flutuando. Tinha olhos de botão, um nariz em forma de apito e uma risada que parecia sinos.
— Bem-vinda ao Reino da Brincalândia! — disse. — Eu sou Lúdico, o guardião da imaginação!
Zizi arregalou os olhos.
— Isso tudo… é de verdade?
— É verdade sempre que você acredita. Este é o lugar onde vivem todas as brincadeiras que você já inventou — e também aquelas que nunca teve tempo de fazer.
Zizi andou pelo lugar. Viu brinquedos que lembravam os dela, mas mais vivos. Uma bicicleta que voava, um pula-pula que levava até as estrelas, uma gangorra que contava histórias. Crianças corriam, inventavam, riam com o vento.
— Mas… isso ajuda em quê? — perguntou ela, lembrando das vozes dos adultos.
Lúdico sorriu.
— Ajuda a viver melhor. Quem brinca, aprende a criar, a resolver problemas, a dividir, a imaginar. Brincar deixa o coração leve e a cabeça forte.
Zizi foi se soltando. Primeiro, apenas andou descalça na grama fofa. Depois, montou num cavalinho de papelão que galopava de verdade. Por fim, pulou na nuvem-trampolim e gritou de rir.
Ela brincou como não fazia há muito tempo.
Horas depois, já suada, feliz, com os olhos brilhando, Lúdico se aproximou:
— Você se lembra agora?
— Sim! — disse ela, com um sorriso que parecia arco-íris. — Eu lembrei como é bom brincar!
— Então pode voltar. A brincadeira não precisa parar… só precisa de espaço.
Num piscar de olhos, Zizi estava de volta à biblioteca, ainda com o coração batendo rápido.
Desde aquele dia, algo mudou.
Zizi voltou a brincar. Mesmo com tarefas e horários, ela separava um tempo só pra se soltar. Iniciou um clube de invenções na escola, organizava jogos com os amigos, e até ensinou os adultos a rir de novo.
E quando alguém dizia que brincar era perda de tempo, ela respondia com um olhar travesso e dizia:
— Brincar é mágica. E toda mágica precisa ser praticada.
Fim.